sábado, julho 03, 2010

Invictus

[2009, Warner Home Video]



Em época de Copa do Mundo Sul Africana, nada mais adequado e "fashion" do que falar dos expoentes do país pouco conhecido por nós. Imediatamente, nos vêm à mente, pelo menos na minha, a maravilhosa Charlize Theron, os eternos diamantes, os melhores amigos de dez em cada dez mulheres deste planeta azul.... e, claro, Nelson Mandela ! Ganhador do Nobel da Paz em 1993, Madiba, como é conhecido por causa de seu clã, é o ícone maior do país sede desta primeira copa do mundo de futebol em continente africano. Mandela [1918- , presidente de 1994 a 1999] é o símbolo máximo contra o Apartheid, regime calcado na atribuição de cuidados diferenciados nas áreas educacional, habitacional e de saúde, baseado na segregação racial na África do Sul, privilegiando os brancos, em detrimento dos negros, através de leis sancionadas em 1948. A coisa mais incrível deste regime era o confinamento dos negros a áreas pré determinadas, denominadas "homelands", supostamente independentes, mas controladas pelo governo branco sul africano. Para se movimentar nas áreas "brancas" necessitavam de um "passe" e não possuíam qualquer direito político a não ser nas "homelands". Eu diria, um regime batuta, baseado na cor da pele de seres humanos, em seu mais alto estúpido grau ! Fico imaginando os alienígenas analisando fatos históricos ou idéias insensatas que povoam a mente desta raça inglória de um planeta tão bonito ! Qualquer semelhança com os filmes District 9 [Neill Blomkamp, 2009] e The Day the Earth Stood Still [Robert Wise, 1951] é proposital ! Ainda bem que tudo isto é história e foi abolido no início dos anos 90....



Mas, é sobre esta fase de transição que o filme trata, baseado no livro de John Carlin [Playing the Enemy: Nelson Mandela and the Game That Changed a Nation, 2008] e com feliz adaptação do roteirista Anthony Peckham [lembram-se dele ? O mesmo do filmaço do Sherlocão !], que por sinal é sul africano ! Fiquei com uma vontade enorme de ler este livro que trata dos principais episódios do período entre a libertação do líder negro de seu longo cativeiro de 27 anos no presídio da Ilha Robben, em fevereiro de 1990 e aos 72 anos, até o final da Copa do Mundo de Rugby em 1995.



Morgan Freeman [o maquiavélico Sloan de Wanted, 2008] reverencia o líder negro através de uma reconstituição meticulosa, sobretudo na postura, andar e modo de falar característico de seu personagem, que os leitores podem constatar no extra "Freeman meets Mandela" da bolacha azul em destaque. Particularmente, não sou um fã do ator Freeman, cultuado em excesso, talvez mais pela frequência com que comparece às películas do cinemão americano, do que pela qualidade de suas interpretações. Mas, aqui sob a regência do mestre Clint, tenho que admitir que realizou um ótimo trabalho.

Com um trabalho mais discreto, mas eficiente e convincente, está Matt Damon [o eterno Jason Bourne] como o capitão do time nacional de rugby, Jacobus François Piennar [1967- , que foi líder dos Springboks de 1993 a 1996], um verdadeiro "armário" loiro que lidera, a exemplo de Mandela, um time desacreditado na epopéia da copa do mundo ao enfrentar potências do esporte como os incríveis All Blacks [seleção neozelandesa].



O filme mostra o entrelaçamento destes dois notáveis personagens sustentados pelos fatos históricos e amarrados de forma interessante pelo escritor John Carlin, descrevendo a visão do presidente recém eleito na oportunidade ímpar de unir um país desconfiado e dividido racialmente em torno do esporte e da copa do mundo. Aspectos da vida familiar de ambos são apenas pincelados no decorrer da estória, com ênfase à fase de cárcere e da incansável luta deste líder em transformar o seu país em uma democracia multi racial rumo à modernidade. Imagens reveladoras das ruas de Pretória, do agora conhecido estádio Ellis Park, e das favelas sul africanas, são destaques, bem como os belos semblantes e a alegria de seu povo. Os jogos emocionantes de rugby são um espetáculo à parte. Embora seja um espectador ignorante deste esporte, a plasticidade das imagens nas disputas entre os seus atletas são registros admiráveis. Atenção especial ao duelo travado entre os seguranças do presidente, que resumem o estado das coisas de um país pós apartheid.

Algumas curiosidades por trás dos bastidores encontrados nos extras: o próprio Mandela havia dito que somente Morgan Freeman poderia representá-lo bem na telona, sendo a recomendação acatada imediatamente pela produção. Matt Damon, inicialmente ao ser convidado para o papel de capitão dos Springboks ficou intimidado pelas proporções do paredão François Piennar, sendo acalentado pelo diretor Clint. Teve que suar muito para aprender a jogar rugby com o próprio Chester Williams, único jogador negro daquela seleção. A cena do gabinete do govermo, onde se dá o primeiro encontro entre Mandela e Piennar, foi filmado no próprio palácio presidencial, Union Buildings, pela primeira vez na história do cinema.

Morgan Freeman & Nelson Mandela:


Francois Piennar & Matt Damon:


A direção segura de Clint Eastwood [Grand Torino, 2008] mais uma vez nos brinda com um belo filme: direto, objetivo e emocionante.. Mais um grande filme adicionado à sua extensa galeria de películas inesquecíveis, isto se nos detivermos apenas no seu talento de diretor. Recomendo este filme principalmente para aqueles que gostam de uma boa estória, baseada em fatos históricos, e contada de forma inteligente !

A edição analisada é uma lata francesa de acabamento exemplar com fotos estampadas tanto no exterior, como no interior da marmita. Acompanha um folheto com fotos e informações em francês. Áudio & Legendas em Pt-Br. Extras cheios de informação e curiosidades com a presença dos atores, produtores, diretor e Nelson Mandela.



Quanto à imagem, não decepciona, embora as cores lavadas, principalmente nas locações externas não tenham me empolgado muito. Seguramente foi uma opção estética do diretor de fotografia, Tom Stern, com cores esvanecidas, lembrando em muitos momentos documentários. Não me empolga ! Tons de pele corretos e cenas noturnas com boa profundidade de preto. Locações internas mais felizes e agradáveis muito próximas do real. O áudio em DTS-HD Master Audio 5.1, embora não tão exuberante como nos filmes de ação, é envolvente, sobretudo nos estádios e nas locações externas. Prestem atenção na voz de Morgan Freeman nas surrounds lendo o poema Invictus de William Ernest Henley, poeta inglês que o escreveu no hospital às vésperas de ter o seu pé amputado. É comovente !

Invictus
by William E Henley

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate;
I am the captain of my soul.


Foto de William E Henley [1849-1903]


Para entender um pouco mais:
O apartheid foi um regime de segregação racial que vigourou na África do Sul entre 1948 e 1994, período em que o Partido Nacional se sucedeu no govermo. Assim, o controle das leis era da minoria branca. A segregação por raça começou no período colonial, mas o apartheid como regime foi oficialmente instituído na eleição de 1948, que dividiu a população sul-africana em grupos raciais: "negros", "brancos", "de cor"e "indianos". Isso obrigou a uma mudança forçada de endereços para que não houvesse "misturas". Em 1958, os negros perderam a sua cidadania, tornando-se membros de tribos autônomas chamados bantustões. A segregação provocou uma onda de revoltas até que, em 1990, começaram as negociações para as eleições multirraciais de 1994, vencidas pelo Congresso Nacional Africano, partido de Nelson Mandela. Mesmo assim, ainda há vestígios de segregação racial. [fonte: O Estado de São Paulo]

Avaliação:

- Enredo: 4/5
- Imagem: 3,5/5
- Áudio: 4/5
- Edição: 5/5

Ficha Técnica:

- Filme:
. Vídeo: 1080p High-Definition 16 x 9, 2.40:1
. Áudio: English DTS-HD MA 5.1, French, Italian, German, Spanish, Japanese, Thai, Portuguese Dolby Digital 5.1
. Legendas: English SDH, French, Italian, German, Spanish, Dutch, Finnish, Norwegian, Portuguese, Swedish
. Região: A, B, C
. Capacidade do Disco: 50 GB
. Video-Codec: VC-1
. Duração: 133 minutos

- Extras:
. In-depth picture-in-picture: explore the movie's creation with those who lived the real-life saga as well as the cast and filmmakers
. Mandela meets Morgan
. The Eastwood Factor: Clint Eastwood looks back at his films and career
. Matt Damon plays rugby
. Invictus music trailerve
. Vídeo: vários
. Áudio: vários
. Legendas: English, French, Italian, German, Spanish, Portuguese

Fotos da Edição: