Sherlock Holmes
[2009, Warner Home Video]
A escolha deste título neste momento foi intencional, haja vista que a época [1890] em que se desenrola a estória é a mesma do filme comentado anteriormente, The Wolfman [2010], assim como o local, Londres. Desta forma, é possível ter a visão distinta entre os dois diretores quanto ao tratamento dado à recriação do ambiente, fotografia, figurinos e, principalmente à condução da ação. O leitor azul poderá então comparar estas duas películas, onde os personagens poderiam estar se cruzando em situações concomitantes em uma Londres úmida, embrumada, cinzenta e suja, e ao mesmo tempo reveladora.
A sequência inicial é magistral e mostra a proposta do talentoso diretor Guy Ritchie [RocknRolla, 2009 e Snatch, 2000] de exibir um Sherlock mais fiel ao imaginado pelo escritor Sir Arthur Conan Doyle [1859-1930]. É brilhantemente interpretado por um Robert Downey Jr. empolgado [o playboy Tony Stark de Iron Man 2, 2010 e o impagável Kirk Lazarus de Tropical Thunder, 2008], assim como o seu fiel companheiro, Dr. Watson, inesperado papel atribuído a Jude Law [o volúvel Dan de Close, 2004 e o conquistador de Alfie, 2004].
As estórias escritas por Doyle apresentam o seu lendário personagem Sherlock Holmes [criado em 1887] muito diferente dos filmes hollywoodianos, sobretudo na pele de Basil Rathbone [1892 - 1967] que acostumamos assistir nas reprises vespertinas. Nesta nova produção, Sherlock é um genial investigador de enormes recursos intelectuais, incomparável capacidade de observação e dedução, mas viciado em diversos estimulantes [cocaína, morfina, charutos, cachimbos, etc...], um lutador de obscuros e imundos clubes noturnos de luta, praticante de artes marciais [ba-ritsu, espécie de jiujitsu] e com uma relação afetuosa, no mínimo suspeita, com o seu parceiro Dr. Watson !
A estória apresenta diversas nuances na perseguição de um vilão amedrontador e com cara de conde Drácula, mas com um único dentinho saliente e sexy, Lord Blackwood [Mark Strong, novamente em parceria com Guy Ritchie, RocknRolla, 2009], versado em magia negra e "serial killer" por gosto e profissão. Naturalmente o pedido de ajuda vem de uma ineficaz Scotland Yard [de novo !] na pessoa do inspetor Lestrade [Eddie Marsan, o assaltante Red de Hancock, 2008]. Sherlock, ajudado por seu notório parceiro, médico, soldado condecorado e jogador, Dr. Watson, se envolve em uma trama onde aparece uma fraternidade secreta ambiciosa, uma inesquecível Irene Adler [Rachel McAdams, State of Play, 2009] e o seu arquiinimigo misterioso e ardiloso, Professor Moriarty. Na caça ao nobre do mal, cheio de emoções e reviravoltas, são mostradas as tiradas argutas e cheias de ironia cáustica, em forma de duelo, entre os dois protagonistas, além dos recursos físicos [muita ação e pancadaria !] e intelectuais [geniais, mas.... improváveis], além de disfarces improvisados. O ciúme declarado de Sherlock para com a noiva de seu amigo, Mary Morstan [Kelly Reilly, Pride and Prejudice, 2005], e a iminente perda do amigo de moradia é escandaloso e permeia toda a estória ! A relação intempestuosa e desconfiada com a perigosíssima e dúbia Irene Adler [que aparece em um único conto de Doyle, Um Escândalo na Boêmia] é um dos pontos mais altos do filme ! A faceta inventiva do detetive também é realçada através de cenas divertidas com seus experimentos pioneiros: silenciador de pistolas, anestésicos [vitimando o bonachão cão Gladstone - preste atenção !] e a ordenação do caos através de acordes de violino submetidos às moscas aprisionadas... um delírio ! Ou seja, todos os componentes de uma estória envolvente estão presentes graças ao ótimo roteiro de Michael R. Johnson e Anthony Peckhan.
Algumas curiosidades por trás dos bastidores: estava cotado para a dupla de heróis, Sam Worthington [o bom moço Jake Sully de Avatar, 2009] no lugar do renascido e talentoso Robert Downey Jr. e Colin Farrel [Sonny Crockett de Miami Vice, 2006] como o atlético Dr. Watson. O set de filmagem da casa de Sherlock, na famosa Baker Street, 221 B - City of Westminster, foi usada previamente como a residência de Sirius Black [Gary Oldman] no filme Harry Potter and the Order of the Phoenix [2007]. Na cena de tiros de pistola na parede por Sherlock no início do filme, as letras VR significam Victoria Regina, monograma da realeza, referindo-se a era vitoriana, época onde se passa a estória. Na película não aparece o famoso chapéu do detetive [que não é um atributo do personagem literário...] e nem a famosa expressão "Elementar, meu caro Watson !" que nos contos de Doyle aparecem desmembradas e nunca no formato renomado.
O diretor Guy Ritchie, personalíssimo, com suas tomadas rápidas, câmera nervosa, sequências recontadas e com a grande sacada da antecipação das fraquezas dos oponentes nas lutas de Sherlock [denominado de "Sherlock-o-Vision"], consegue inovar, ressuscitando a dupla de detetives mais famosa do século XIX com muita diversão, humor e ação na pele dos carismáticos Robert Downey Jr. [simplesmente perfeito !] e Jude Law. Estamos no aguardo da esperada sequência desta franquia, que já é um sucesso de público e crítica ! Um filmaço !
A edição analisada é uma marmita alemã caprichada com artes externa e interna irretocáveis. Acompanha uma "camisinha" de proteção, tipo de "luva" transparente que se sobrepões à lata compondo um grafismo muito elegante e bonito. Áudio & Legendas em Pt-Pt. A edição é recheada de extras muito bacanas, com ênfase ao "Maxim Movie Mode" que permite a apresentação do filme pelo diretor lançando mão de recursos interativos, tais como "Focus Points", "PiP", "Walk-ons" e "Storyboards".
A imagem do filme em BD é soberba e não há quaisquer comentários que possam comprometer a belíssima fotografia de Philippe Rousselot [Constantine, 2005]. Um primor em cores pastéis requintadas, jogos de claro-escuro muito similar às pinturas do século XIX. Texturas corretas, cor de pele natural, pretos profundos e sombras convincentes. Gostei realmente da imagem desta bolacha azul. Atenção especial para as cenas externas da cidade londrina, o rio Tâmisa e a Ponte de Londres, o Parlamento inglês. A Warner está de parabéns ! Recomendo aos leitores uma comparação cuidadosa com a bolacha do The Wolfman. O áudio é bastante consistente, claro e vívido. O andar das carruagens e seus cavalos, os ruídos da rua, explosões, lutas e diálogos são reproduzidos em DTS-HD MA 5.1 de forma impactante. Especial atenção para a voz do Lord Blackwood que passeia pelas surrounds pronto a pegá-lo pelas costas ! Trilha sonora envolvente do premiado Hans Zimmer [The Dark Knight, 2008] com música tema que o fará se lembrar por muito tempo. Imperdível !
Avaliação:
- Estória: 4/5
- Imagem: 4/5
- Áudio: 4/5
- Edição: 5/5
Ficha Técnica:
- Filme:
. Vídeo: 1080p High-Definiton 16 x 9, 1.78:1
. Áudio: English DTS-HD MA 5.1, English Audio Description Track 2.0, French, Italian, German, Spanish, Dolby Digital 5.1
. Legendas: English SDH, French, Italian, German, Spanish, Danish, Finnish, Norwegian, Portuguese, Swedish
. Região: A, B, C
. Capacidade do Disco: 50 GB
. Video-Codec: VC-1
. Duração: 128 minutos
- Extras:
. Maxim Movie Mode / Drawnbridges & Dollies: Designing a Late Victorian London / Not a Deerstalker Cap in Sight / Ba-ritsu: A Tutorial / Elementary English: Perfecting Sherlock's Accent / The One that Got Away / Powers of Observation & Deduction / The Sherlockians / Future Past / Sherlock Holmes: Reinvented / BD Live
. Vídeo: vários
. Áudio: vários
. Legendas: English, French, Italian, German, Spanish, Nederlandish
Fotos da Edição:
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