Shutter Island
[2010, Paramount Pictures]
Como é bom ter um grande Scorsese de volta !
Desde Goodfellas [1990] não se via um Scorsese tão vigoroso, definitivamente "acertando a mão" nesta tão aguardada bolacha azul. Um verdadeiro soco no estômago ! Retoma a linha de grandes filmes após produções discutíveis como The Departed [2006], The Aviator [2004] e Gangs of New York [2002]. Três películas realizadas com Leonardo DiCaprio [o ótimo Frank Wheeler de Revolutionary Road, 2008] sem a unanimidade de público e crítica.
Nesta quarta produção conjunta, DiCaprio está fenomenal como o agente federal Teddy Daniels. Sem dúvida alguma há uma enorme evolução deste ator americano, outrora promessa em filmes como What´s Eating Gilbert Grape e This Boy´s Life [ambos de 1993]. A atuação de DiCaprio é soberba, bem elaborada e emocionante. Carrega o filme nas costas em um duelo de gigantes com o ator inglês Ben Kingsley [o inigualável Ghandi, 1982], que compõe um temerário e sinistro Dr. Cawley.
A trama é envolvente e deixará o leitor azul à beira de um ataque de nervos, roendo todos os dedos e colado em sua poltrona ! A estória é baseada no livro "Paciente 67" [Shutter Island, 2001] de Dennis Lehane [1966- ], escritor americano, cujo título "Sobre Meninos e Lobos" [Mystic River, 2003] é o seu mais famoso livro. A sequência inicial do filme em meio a uma pesada neblina já entrevê uma homenagem aos filmes de terror gótico e anuncia a chegada do agente Teddy Daniels e de seu parceiro, Chuck Aule [Mark Ruffalo, o médico de Blindness, 2008], à Ilha Shutter. A chegada à ilha tem o intuito de desvendar o misterioso desaparecimento da perigosa paciente Rachel Solando [Emily Mortmer, a Nicole de Pink Panther, 2006] do complexo presidiário e psiquiátrico, Ashcliffe Hospital, Boston. Ficamos sabendo que Daniels forçou a barra para que esta missão lhe fosse atribuída para poder resolver questões particulares que o espreitam desde a morte de sua amada esposa, Dolores Chanal [a ótima Michelle Williams, Alma de Brokeback Mountain, 2005]. Scorsese, como é sabido, é uma verdadeira enciclopédia cinéfila, esbanjando erudição, seja durante encontros com entrevistadores em festivais, seja atuando na direção de um filme dando indicações precisas à sua equipe. Assim sendo, não é surpresa que a partir da chegada dos agentes federais à ilha, o espectador azul se veja às voltas com um mosaico de referências e um labirinto de pistas que instigam e confundem, causando uma tensão contínua e sufocante. Mestre Hitchcock [Psycho, 1960] é lembrado em várias cenas, a mais óbvia, a do chuveiro ! E o querido David Lynch [Mulholland Drive, 2001] se faz presente nas cenas oníricas e nas sequências de horror.
É um filme ousado, que causará muitas discussões e análises apaixonadas, considerando as tomadas panorâmicas da ilha, os flashbacks da guerra e do holocausto cruel, o enfoque dado ao drama pessoal do protagonista, as falas desconcertantes que permeiam a trama e a alternância de cenas bisonhas [close em um fauno de pedra e coisas do tipo....] com cenas inesquecíveis [das cinzas incendiárias...preste atenção !]. Depois de muitos anos reencontro o prazer de assistir a um filme de Scorsese ! Filme de diretor maduro, personalíssimo, com um vasto arsenal de recursos e um liquidificador de referências. Desta vez, a dupla Scorsese / DiCaprio acertou em cheio ! Recomendo, e muito !
Algumas curiosidades por trás dos bastidores: quando a Paramount Pictures decidiu viabilizar este projeto tinha em mente a dupla de atores Brad Pitt e Mark Wahlberg como protagonistas, além do diretor David Fincher [The Curious Case of Benjamin Button, 2008]. A paisagem da ilha Peddocks, exibida no início do filme, a Acadia National Park no estado de Maine, o Medfield State Hospital e o Rice Estate do Turner Hill Country Club em Ipswich, ambos no estado de Massachussetts, além de imagens em CGI, compõem o cenário de Shutter Island. A área montanhosa da ilha não existe e foi adicionada na pós produção. Entretanto, os prédios de tijolos em ruínas pertencem à ilha Peddocks. A caneta esferogáfica usada pelo personagem Teddy é uma Parker Jotter lançada em 1954, ano em que se passa a ação. Foi a primeira caneta esferográfica confiável a alcançar o mercado e vendeu, só naquele ano, mais de 3.5 milhões de exemplares, tornando a caneta tinteiro obsoleta.
A edição analisada é uma marmita francesa com grafismos externos em cores sóbrias e foscas. Sobressai o olhar severo, levemente paranóico, do DiCaprio, além de tomadas da ilha. Há um folheto externo, destacável, com a ficha técnica do filme azul. O seu interior possui arte impressa com fotos do filme e um único disco com estampa semelhante aos vendidos pelos camelôs da rua 25 de março ! Realmente bem ruinzinha... Não dispõe de áudio e legenda em português !
A imagem deste disco azul é uma das melhores que vi até o momento ! Deslumbrante ! Prestem atenção na abertura do filme, uma aula de fotografia do diretor Robert Richardson [o mesmo de Inglorious Basterds, 2009]. Reparem nas maravilhosas cores dos interiores e estampas dos tecidos e diversos materiais, o preto profundo e as gradações de cinza nas sombras das cenas do hospital/presídio. Tudo muito sintonizado com o clima sombrio que envolve a trama e que contrasta com a luminosidade das cenas externas da ilha, das cores vivas e transbordantes. As nuances das linhas de expressão de cada personagem são ressaltadas com muita naturalidade e detalhismo impressionantes. Referência, sem dúvida ! Qualidade encontrada em filmes recentes com transfers caprichados e fiéis. Você, leitor azul, certamente ficará com o queixo caído !
A trilha sonora tem uma importância capital no decorrer da estória e é responsável pelo ar sufocante e tenso, muitas vezes, aterrorizante. A menos do quarteto de Mahler, não há propriamente música identificável ou temas reincidentes. Sons da natureza, ondas, chuva, pássaros, tempestade e ruídos de toda natureza conduzem o estado de espírito dos personagens e da audiência. Tudo embalado em um cativante DTS-HD MA 5.1 preciso e envolvente. Não leva a nota máxima, pois algumas falas são abafadas pelos sons externos....
Avaliação:
. Estória: 4.5/5
. Imagem: 5/5
. Áudio: 4.5/5
. Edição: 4/5
Ficha Técnica:
. Vídeo
Video codec: MPEG-4 AVC
Video resolution: 1080p
Aspect ratio: 2.35:1
Original aspect ratio: 2.39:1
Data de Lançamento BD: 24/06/2010
. Áudio
English: DTS-HD Master Audio 5.1, French: DTS 5.1
. Legendas:
Francês, Inglês , Holandês, Dinamarquês, Sueco, Norueguês, Finlandês
. Disco:
Capacidade: 50GB Blu-ray Disc / Single disc (1 BD)
Região: ABC
Duração: 137 minutos
. Extras:
Behind the Shutters HD / Into the Lighthouse HD
Fotos da Edição:
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