quarta-feira, julho 07, 2010

District 9

[2009, Sony Pictures]



É um grande filme de ficção científica !
Não nos moldes da Trilogia James Cameron [Terminator, 1984 / Aliens, 1986 ou Avatar, 2009], filmes de ação ecológicos banhados de muita tecnologia futurista e de alienígenas indestrutíveis. Se o leitor está esperando uma película similar, esqueça !

A ação se passa na cidade de Johannesburg [compare com a cidade de Pretória em Invictus, 2009 - da mesma África do Sul e da mesma época] e começa com um apanhado histórico, narrado pelo protagonista, Wikus Van De Merwe [Sharlto Copley, o Murdock de A-Team, 2010], um funcionário burocrata da organização privada MNU [Multi-National United], responsável pela remoção de 1,8 milhões de alienígenas para uma nova área demarcada. Através de entrevistas e depoimentos no formato de documentário, ficamos sabendo que os forasteiros chegaram em uma imensa nave há 28 anos atrás, e contrariando as expectativas de qualquer pessoa acostumada a assistir grandes produções hollywoodianas [Close Encounters of the Third Kind, 1977 e The Day the Earth Stood Still, 2008], não são etéreos, intelectualmente avançados, bonitos e perfumados, e sim com aparência de "camarões" [prawns] subnutridos e sujos. Tudo indica ser uma nave mãe de trabalhadores, que enguiçada e sem meios de retornar ao planeta de origem, pede ajuda aos terráqueos. Após a quebra do encanto inicial e sem a perspectiva de usar as suas armas biotecnológicas alienígenas, o grande interesse da MNU, os "sábios" humanos confinam esta população de mais de 1 milhão de extraterrestres crustáceos em uma área demarcada e militarizada, o Distrito 9.



Daí, qualquer semelhança com as "homelands" usadas pelo regime Apartheid sul africano para os negros a partir de 1948 [os "camarões" chegaram em 1982 !], é mera coincidência ! As favelas e às condições a que são submetidos os oprimidos e desprezados alienígenas bonitões são realistas e encontráveis em qualquer regime segregacionista, seja por cor, credo, nacionalidade ou situação econômica. Lemos diariamente os noticiários da França, Alemanha, Israel e, claro, Brasil, e não nos espantamos. O mesmo acontece no enredo do filme, mas de forma muito mais explícita e impactante com esta minoria sideral. Tudo isso adicionado à saga kafkaniana de Wikus Van De Merwe, interpretado magistralmente pelo ator sul africano Sharlto Copley, que nos faz acreditar em sua odisséia particular. Há também humor ácido, como nas cenas de comida para gatos, impagável ! A brutalidade dos humanos, é digno de nota, e é responsável pelas cenas mais violentas e cruéis de todo o filme. Ao invés de enaltecer os alienígenas, a estória ressalta os aspectos mais sombrios e malignos da natureza humana. A mentira, a manipulação, a opressão, o espírito bélico, o desrespeito pelas diferenças, a crueldade da tortura e a curiosidade mórbida estão presentes neste disquinho azul. Emerge desta área degradada, District 9, a bandidagem organizada, na figura de uma gangue nigeriana, que age no mercado negro e distribui generosa violência. O espelho mais uma vez refletindo a imagem de traficantes de droga de nossos morros favelados.



Direção surpreendente do estreante Neill Blomkamp [do desconhecido Tempbot, 2008], que em conjunto com Terri Tatchell, sabe contar uma boa estória de forma segura e envolvente. O leitor azul ficará "grudado" em sua tela acompanhando o desenrolar dos acontecimentos. Filme de baixo orçamento [US$ 30 milhões], com jeitão de filme "indie", baseado na infância do diretor sul africano. É um filme que excederá todas as suas expectativas ! Recomendo !



Algumas curiosidades por trás dos bastidores: como parte da divulgação do filme, tanto nos EUA, como na Inglaterra, foram distribuídos cartazes em pontos de ônibus, prédios comerciais, etc..., nas suas principais cidades, designando áreas de acesso proibido para alienígenas. Além da figura crustácea, constava no cartaz telefones para delatar a eventual entrada dos alienígenas ! Todas as tomadas feitas no District 9 foram feitas em áreas faveladas com barracos reais de Johannesburg, o que acentua o paralelo com a nossa triste realidade. A linguagem dos extraterrestres, repleto de "clicks", foi baseado em inúmeros dialetos e línguas tribais africanas, inclusive Zulu e Xhosa. A estória, uma adaptação do curta Alive in Joburg [2005, Blomkamp], foram inspiradas pelos acontecimentos da década de 70, na remoção forçada de 60 mil habitantes do District 6 na Cidade do Cabo, durante o Apartheid.



A edição analisada é uma lata francesa, digna de se enfileirar às demais marmitas na prateleira de qualquer colecionador sério. Destaque para a foto estampada na capa / contracapa da lata com a imensa nave alienígena sobre os prédios de Johannesburg vista do interior do District 9, além da famosa placa de aviso. Ao abrir a lata, grafismos sóbrios, mas condizentes com a mensagem do filme. Possui uma folha com a ficha técnica da edição sobreposta à lata. Áudio em francês e inglês e Legendas somente em francês.

Aviso ! é uma edição endereçada aos versados em francês, pois as falas dos alienígenas são apresentados com legendas em francês ! Para piorar, a bolacha francesa é Região B.



A imagem desta bolacha azul é extraordinária, para mim, referência ! Imagem limpa, clara e luminosa, sem resquícios de qualquer tipo de granulação. Apenas a porção inicial, em formato de documentário, é apresentado com imagens intencionalmente envelhecidas. Tudo muito detalhado e natural, com muitas cenas externas impressionantes em tons vívidos com cores puxando sempre mais para o marrom terra para destacar as favelas e o estado de degradação em que vivem os extraterrestres. As imagens são muito realistas e detalhadas, roupas e feições dos protagonistas aparecem como se estivessem ao nosso lado. A textura dos alienígenas, embora em CGI, se integram perfeitamente ao contexto visual de cada tela exibida. Efeitos especiais e visuais de primeira ! É realmente impressionante e o nosso taradinho azul não ficará em momento algum desapontado, assim como tenho a convicção que o diretor de fotografia, Trent Opaloch, não ficou com o resultado em blu-ray.

O áudio maravilhoso em DTS-HD Master Audio 5.1, é um prato cheio para aqueles que possuem um HT. Destaque para vozes nos rádios dos comandados da MNU, os diálogos dos alienígenas, gritarias, explosões, tiros de assustar qualquer na sua sala, voos ensurdecedores de helicópteros, tudo com uma participação especial e importante do seu subwoofer, que seguramente vai estremecer as suas vidraças ! A trilha sonora de Clinton Shorter, embora sutil, é responsável por toda a tensão e agonia do filme e valoriza, através de sons e vibrações de baixa frequência o seu subwoofer. Qualidade técnica inquestionável ! Produção de Peter Jackson [Lord of the Rings], que demonstra talento na escolha de diretor / trama para botar o seu dedo milionário.



Avaliação:
- Estória: 4/5
- Imagem: 5/5
- Áudio: 5/5
- Edição: 4/5

Ficha Técnica:
- Filme:
. Vídeo: 1080p High-Definition 16 x 9, 1,85:1
. Áudio: English DTS-HD MA 5.1, French DTS-HD MA 5.1,
. Legendas: French
. Região: B
. Capacidade do Disco: 50 GB
. Video-Codec: MPEG-4 AVC
. Duração: 112 minutos

- Extras:
. Audio commentary by director Neill Blomkamp
. " The Alien Agenda ": Diary of a filmmaker
. Deleted Scenes
. Report on design and the design of the aliens
. Áudio: French, English
. Legendas: French

Fotos da Edição: