terça-feira, setembro 07, 2010

Green Zone

Sugestão Azul: Green Zone ["Zona Verde"] ! Paul Greengrass e Matt Damon, dupla Bourne campeã, e a ocupação do Iraque !

O assunto é intrigante e por demais atual: a Guerra do Iraque e a ocupação americana ! Um filme instigante e revelador sobre as ações militares americanas em um solo desconhecido e mal compreendido ! E onde a verdade é, de todas, a maior ilusão !



Green Zone

Zona Verde, 2010 [Universal Pictures Home Entertainment]

"Your government wanted to hear the lie Mr. Miller... they wanted Saddam out and they did exactly what they had to do... this is why you are here... " ["O seu governo queria ouvir uma mentira Mr. Miller.... queriam o Saddam fora e fizeram exatamente o que tinham de fazer.... é por isso que você está aqui..." - General Al Rawi]



Matt Damon [Invictus, 2009, Clint Eastwood] e Paul Greengrass [United 93, 2006] após a parceria de grande sucesso em The Bourne Supremacy [2004] e The Bourne Ultimatum [2007] voltam a se reencontrar nesta produção de 2010. Green Zone foi completamente ignorado pela galera gringa redundando em uma bilheteria pífia mostrando mais uma vez que o tema, além de controverso, é rejeitado pelos norte americanos acostumados a se vangloriar de seus feitos bélicos ao longo das décadas através de filmes heróicos e envaidecedores. Os mocinhos estão com um equívoco histórico tremendo em suas mãos e um sentimento de culpa coletivo refletido em seus espelhos estrelados e listrados.

A Guerra do Iraque continua tão viva em nossas mentes por ter sido um conflito tão impactante e desproporcional, e com motivos tão mal explicados pela administração republicana Bush que nos trazem imediatamente um grande desconforto e uma quantidade absurda de pontos de interrogação. Barack Obama e a sua banda democrata atual seguem colhendo frutos amargos de um triste episódio sustentado por falsas alegações e objetivos, no mínimo, discutíveis. Certamente a temática é perturbadora e pelos eventos transmitidos mundialmente em clima de videoclipe ao som de bandas heavy metal nos fazem pensar com tristeza sobre a intolerância humana e a busca da supremacia pela força !

"Chief, our mission is here." ["Nossa missão é aqui." - Conway]
"You want to sit around dig holes all day, or get something done? ." ["Você quer passar o dia inteiro fazendo buracos por aí, ou fazer algo útil ?" - Miller]



Aliás todos se perguntam sobre as ações e reações insanas de um mundo incrédulo e apavorado ante a contínua ameaça terrorista, que destruiu as gêmeas mais famosas do planeta, e que nos assombra e nos lembra de sua existência através de notícias diárias, videogames e inúmeros filmes.

Quando assistimos pela televisão a retirada gradativa em agosto último das tropas de ocupação americana, prometidas por um outrora esfuziante Obama, sentimos uma frustração enorme ao ver o resultado diminuto de uma operação militar sem precedentes exibindo uma incompetência abundante e coletiva da inteligência americana na procura estapafúrdia por armas de destruição em massa [WMD - "weapons of mass destruction"].

Aspectos mercadológicos do maior negócio sob a face da terra são raramente mencionados, além dos fantasmas da guerra fria ressucitados sobre a égide do terrorismo [há sempre um temor maior que justifique ações truculentas de intervenção militar !]. Tudo isso muito bem misturado em um liquidificador étnico, cultural e religioso, tendo como resultado mais inconsequente: o desvairio militar.

"What happened to your leg?" ["O quê aconteceu com a sua perna ?" - Miller]
"My leg is in Iran. Since 1987. Me too, I fight for my country" ["Minha perna está no Irã. Desde 1987. Eu também luto por meu país" - Freddy]



É neste cenário geopolítico, econômico e militar é que conhecemos o oficial do exército americano de ocupação, Roy Miller [Matt Damon], e a sua equipe, especializada na procura e identificação de armas de destruição em massa. Estamos em 2003 e o local é Bagdá. A mesma Bagdá devastada, onde o Sargento William James e o seu esquadrão especial de elite estão desarmando e detonando artefatos explosivos [IED - "Improvised Explosive Device"] plantados por insurgentes no filme de Kathryn Bigelow [The Hurt Locker, 2008]. Aliás, Miller e James poderiam muito bem trocar as suas experiências em um "butecão" semidestruído de Bagdá ao final de um dia exaustivo !

Em pleno deserto iraquiano, tudo o que presenciamos ao acompanhar Roy Miller é o sol escaldante, a poeira seca, os restos de uma cidade encardida, onde os seus habitantes não disfarçam o ódio à presença estrangeira, tão estranha e ignorante aos seus costumes, crenças e tradições. Do outro lado, o mesmo sentimento dos soldados do esquadrão de Miller são enumerados pelo grupo de elite de James, ou seja, cumprem uma missão designada, são operários anônimos de uma operação incompreendida, cujos objetivos já se perderam há muito tempo em um labirinto político militar. É um trabalho ["job"] a ser feito antes de voltar para a casa.

"At least tell me how it happened. How does this happ... how does someone like you write something that's not true? Tell me." ["Ao menos me diga como isso aconteceu. Como isto acontece... como alguém como você escreve algo que não é verdade ?" - Miller]



Roy Miller em sua total ingenuidade se degladia com o Clark Poundstone [Greg Kinnear, Little Miss Sunshine, 2006], um burocrata da unidade especial de inteligência do Pentágono ["Special Intelligence Unit"], após infrutíferas buscas a armazéns e supostos locais fornecidos pela inteligência, onde supostamente estariam as perseguidas armas químicas e biológicas. Encontra Martin Brown [Brendan Gleeson, Beowulf, 2007], veterano agente da CIA com base no Oriente Médio, que desconfia das informações repassadas. Todo jogo de mídia às populações distantes e crentes é fornecido pela correspondente do Wall Street Journal, Lawrie Dayne [Amy Ryan, Changeling, 2008], fornecendo as justificativas oficiais para o conflito e ocupação. Após um sucessivo desencadear de eventos políticos suportados por ações militares, onde identificar mocinhos e bandidos é o que menos importa, Roy Miller se envolve em uma conspiração complexa [todas são !] de onde dificilmente sairá vivo. Terá que ser astuto o suficiente para descobrir os responsáveis e os objetivos reais por trás desta história.

Green Zone é um filme inspirado no livro Imperial Life in the Emerald City escrito em 2006 por Rajiv Chandrasekaran. Este livro documenta os preparativos para a invasão do Iraque em 2003 e a sua imediata ocupação. Enumera os principais personagens por trás dos bastidores políticos, bem como os seus papéis perante à mídia mundial. Detalha a briga pelo poder entre o Departamento de Estado americano e o Pentágono, as escolhas pessoais movidas por dinheiro, falso ideologismo, mentiras, contratos ilícitos e posições políticas contracenando com os efeitos sobre a população local. O que foi acrescentado pela dupla Paul Greengrass e o escritor Brian Helgeland [Mystic River, 2003] foi a procura por armas de destruição em massa, foco principal do filme.



Este pequeno detalhe faz uma diferença enorme no desenrolar da trama, tornando-a mais ambiciosa e instigante, pois a exemplo do protagonista, fomos usados em uma estratégia econômica militar acreditando nas tais armas demoníacas, onde o seu garoto propaganda Saddam Husseim foi o "queridinho" da mídia. Lembre-se que a suposta existência das armas de destruição em massa em território iraquiano foi o único argumento escancarado mundialmente legitimando a invasão da coalização americana / britânica. O filme não busca explicações do argumento doutrinário de "atacar antes de ser atacado", mas aponta na direção mostrada com convicção por especialistas em segurança nacional na inexistência das armas do Armagedão e na falácia pouco efetiva do Sr. Saddam.



A trama é por demais rocambolesca para ser real, mas serve de exemplo para os descaminhos exercidos oficialmente através da imprensa, sempre objetivando a tornar os leitores cúmplices e apoiadores das ações efetivadas ou em curso. Conspirações exageradas e envolvimentos pessoais travestidos do bem e do mal são caricatos. São motivados apenas para o preenchimento de suas lacunas com muita ação onde o diretor lança mão de um repertório já conhecido. O que é bastante natural e compreensível por se tratar de um filme de ação e guerra e não de um documentário.

[to Chief Warrant Officer Roy Miller] "It is not for you to decide what happens here" [para o oficial Miller - "Não é para você decidir o que acontece aqui." - Freddy]



A direção de Paul Greengrass é muito competente e nos traz uma produção de sequências notáveis, fruto de suas experiências anteriores em filmes de ação espetaculares. Passa a mensagem original com habilidade e brutalidade, mostrando de maneira crua e desvelada as agruras de um local subjugado por soldados que não gostariam de estar onde estão. A câmera nervosa carregada nos ombros [já utilizada nos filmes Bourne e em District 9, Neill Blomkamp, 2009] por entre as ruas de Bagdá proporcionando cenas frenéticas podem causar certo desconforto aos desavisados, mas combina perfeitamente com a estética granulada de Barry Ackroyd [Battle in Seattle, 2007] lembrando documentários. Matt Damon faz o que se espera dele. É correto em sua atuação, mas nada espetacular ou inesquecível. O filme não deixa muito espaço para uma interpretação grandiosa ou cenas dramáticas, mas o seu personagem é crível e consistente. Greg Kinnear, Brendan Gleeson e Amy Ryan contribuem para a trama.



Através dos extras e dos comentários de Greengrass e Damon ficamos sabendo de algumas curiosidades sobre o filme: a maior parte dos soldados da unidade especialista na busca de armas de destruição em massa [WMD], onde Matt Damon era o oficial, não eram atores e sim veteranos das Guerras do Iraque e do Afeganistão. Para Damon foi mais um desafio ao dar ordens como ator a soldados de verdade. As cenas com os helicópteros Black Hawk foram filmadas usando Hueys, depois foram substituídos digitalmente. Todas as tomadas das ruas de Bagdá foram filmadas no Marrocos. O ator responsável por dar vida ao Gen. Al Rawi [Yigal Naor] interpretou Saddam Husseim em uma série televisiva [House of Saddam, 2008]. Naor é ator israelense com ascendência iraquiana judia. O diretor Greengrass começou a carreira filmando documentários.

O termo militar Green Zone se refere à uma zona internacional do Iraque, com cerca de 10 quilômetros quadrados na área central de Bagdá incluindo o palácio de Saddam, onde se montou um centro da Autoridade Provisória da Coligação. É um oásis no meio do caos da cidade ocupada. O filme The Hurt Locker também exibe a mesma área na mesma Bagdá.

"A source has confirmed that chemical and biological weapons are stored at a facility in Al Mansour District." ["Uma fonte confirmou que armas biológicas e químicas estão armazenadas em uma instalação no bairro Al Mansour"]



A marmita que contém Green Zone veio da Alemanha e possui legendas Pt-Pt para a alegria dos entusiastas azuis. A edição é muito bonita com estampa frontal com a foto do oficial Roy Miller e o título em baixo relevo. O selo FSK [faixa etária] é removível e não há qualquer logo ou indicação de blu-ray. A chamada comercial é discreta e não compromete a edição. O verso da lata possui a ficha técnica, o que sempre é uma pena nestes casos, pois é preferível uma foto original sem qualquer inscrição. Ao abrirmos a marmita azul encontramos uma única bolacha com estampa da mesma foto da frente da lata. Em ambas as faces somos agraciados com foto do filme. Um belo item para qualquer prateleira de colecionáveis !

"I thought we were all on the same side ?" ["Pensei que estivéssemos do mesmo lado ?" - Miller]
"Don't be naïve..." ["Não seja ingênuo..." - Martin Brown]



A imagem deste blu-ray é muito boa, mas não deve agradar aos "caçadores de grãos azuis" ! A estética granulada é inteiramente intencional e está de acordo com a proposta do diretor Greengrass e do cinematógrafo Barry Ackroyd, o mesmo do oscarizado The Hurt Locker ! As duas películas neste aspecto têm muito em comum, além da temática de guerra, suposta mesma Bagdá, câmera na mão e efeitos de documentário. Variação de tom de terra em profusão, cores pastéis lavadas acentuando ainda mais o clima desértico e hostil de Bagdá pós-ocupada com muita poeira, areia e secura. Níveis baixos de contraste e cores de pouco impacto. Contraste total com Shoot'em Up !

Poster do Filme:


Uau ! O áudio é para sacudir qualquer espectador atento ou desavisado ! Desde as primeiras cenas do filme você percebe que está ouvindo DTS-HD Master Audio 5.1 em ação. Perseguições, explosões, helicópteros, morteiros e granadas, estampidos de balas de todos os calibres imaginados..... distribuídos por todas as caixas de seu Home Theater ! Diálogos nem sempre claros, mas com gritos que repassam toda a tensão requerida pelo diretor e uma trilha sonora discreta de John Powell [Hancock, 2008], mas responsável pela atmosfera sufocante ao longo do filme.

Trailler do Filme Green Zone


Entrevista com Matt Damon


Resumindo: é um filme de guerra com muita ação em uma bolacha azul de alta qualidade ! Além disso, a trama poderá mexer com os seus neurônios cinzentos fazendo-o questionar ações governamentais em um mundo global total ! Ou não...

Avaliação:
. Estória: 3,5/5
. Imagem: 4/5
. Áudio: 5/5
. Extras: 4/5
. Edição: 4.5/5

Ficha Técnica: Green Zone(Blu-ray) (Steelbook Limited Edition) (German Version)
. Vídeo
Video codec: VC-1
Video resolution: 1080p
Aspect ratio: 2.40:1
Original aspect ratio: 2.39:1
Data de Lançamento BD: 29.07.2010

. Áudio
Inglês: DTS-HD MA 5.1 / Alemão: DTS 5.1 / Espanhol: DTS 5.1
. Legendas:
Alemão, Inglês, Espanhol, Dinamarquês, Finlandês, Cantonês, Coreano, Chinês, Holandês, Norueguês, Português, Sueco
. Disco:
Capacidade: 50GB Blu-ray Disc (1 BD)
Região: ABC
Duração: 115 minutos

. Extras:
Deleted scenes - Play with Video Commentary by Director Paul Greengrass and Matt Damon / Deleted scenes - Play without Video Commentary / Matt Damon: Ready for Action / Inside the Green Zone / Feature commentary with Director Paul Greengrass and Matt Damon / My Scenes / D-BOX / U-Control - Video Commentary with Director Paul Greengrass and Matt Damon / U-Control - Picture in Picture

Fotos da Edição: