terça-feira, agosto 10, 2010

The Hurt Locker

Sugestão Azul: The Hurt Locker ! Agora em marmita azul !

Quem diria que o filme "Guerra ao Terror" fosse abocanhar seis Oscar em 2010 ? Melhor filme e melhor direção para Kathryn Bigelow ! Confira agora em uma edição azul super especial vinda da Coréia !



The Hurt Locker

Guerra ao Terror, 2010 [Summit Entertaiment]

"The rush of battle is often a potent and lethal addiction, for war is a drug." ["O frenesi da batalha é com frequência um vício poderoso e mortal. Em uma guerra é droga"]



Este filme é um fenômeno, de total desconhecido passou a ser a vedete em função do poder da festa do Oscar americano. Um feito de mídia, pois em terras brazucas nem chegou a passar nas grandes telas por ocasião do lançamento mundial ! Com os prêmios faturados pela até então "ex-senhora Jim Cameron", Kathryn Bigelow [K-19: The Widowmaker,2002], inclusive batendo o festejado e superproduzido Avatar [2009] do ex-maridão, passou a ser distribuído em DVD e agora em bolachas azuis ! Somente dez meses após o lançamento em DVD chegou pela a Imagem Filmes às telonas verde-amarelas como um verdadeiro caça níquel de ocasião [fev/2010]. Há acontecimentos que nos fazem bem, e o Guerra ao Terror [2008] tem os seus verdadeiros méritos. Certamente, se não fosse o centro da mídia, apenas um reduzido número de taradinhos privilegiados teria acesso a esta película.

"Everyone's a coward about something." ["Todo mundo é um covarde com relação à alguma coisa." - Sergento William James]



O enfoque do filme é inédito no gênero "guerra". Não há cenas de batalhas grandiosas, o inimigo não é um bando de japoneses suicidas, alemães frios e desalmados, vietcongues emboscados ou russos comedores de criancinhas, não há uma missão heróica. E, principalmente, não há julgamento moral ou bandidos e mocinhos ! Leia para comparação: Saving Private Ryan [2010, Steven Spielberg]. Há uma guerra ! Inacabada, prolongada, desoladora, com suas feridas abertas, mal cheirosas, a crueza de uma terra ocupada por vencedores e duramente combatidos por insurgentes. O Iraque é apenas um local distante. Poderia ser em um país africano, asiático ou sulamericano. É somente circunstancial.

Diria que tudo no filme é minimalista com um forte acento jornalístico, câmera nervosa e documental. O tema do filme é econômico, apenas três personagens principais, e nos coloca desde as cenas iniciais em uma Bagdá devastada, onde os soldados americanos são inseridos em locais empoeirados, um cenário quase pós apocalíptico [Veja The Book of Eli [2010, Albert e Allen Hughes]], menos impactante, mais real, principalmente quando observamos os habitantes locais tentando dar continuidade às suas vidas, ou melhor, reconstruir as suas vidas. A câmera nos revela o dia a dia de um esquadrão especial de elite com profissionais altamente treinados [EOD - "Explosive Ordnance Disposal"]para desarmar e detonar artefatos explosivos [IED - "Improvised Explosive Device"] plantados em lugares públicos por insurgentes objetivando unicamente o terror. O esquadrão faz uso, quando possível, de dispositivos com alta tecnologia embarcada [robôs com câmeras e sofisticados mecanismos de controle e telemetria operados por joystick], mas necessitam de intervenção direta, mesmo protegidos por trajes alinígenas espaciais, que nos fazem lembrar escafandros desajeitados e grotescos [tipo "juggernaut"]. A princípio, apesar da adrenalina inerente ao tipo de trabalho desta equipe, nada parece indicar que a estória a ser contada será envolvente, catártica e violenta. Violenta não só naquilo que qualquer guerra deixa aflorar no caráter humano, mas violenta, principalmente nos valores ideológicos em questão, as razões que a grande maioria local desconhece e o envolvimento emocional, acima de tudo a alternância entre o medo e o alívio, daí o vício, colocando à prova os nervos perante a explosão iminente.

"This box is full of stuff that almost killed me." ["Esta caixa está cheia de coisas que quase me mataram" - Sargento William James]



Este caleidoscópio de fortes emoções em uma montanha russa prestes a se desgovernar, lembra muito os vídeo games atuais, onde a adrenalina é injetada continuamente, fazendo da sobrevivência o seu prêmio maior ! Só que real, jogos mortais ! Em um ambiente hostil, onde as práticas religiosas e os costumes locais são inusitados ao ocidente, onde todos parecem suspeitos e possuem cara e jeito de terrorista [da mesma forma que nas guerras do pacífico, todos os japoneses eram iguais !], a aposta maior é vencer na habilidade, coragem e arrogância, o inimigo invisível, frustrando os seus atentados.



Este retrato é pintado de forma soberba pela diretora Bigelow mostrando uma segurança incomum em um filme de ação e de tema tão difícil. Autenticidade é a palavra mais adequada e que representa a preocupação maior da direção e produção. A presença arrebatadora do desconhecido Jeremy Renner [Take, 2007], uma revelação, é de ficar de pé e tirar o chapéu ! Incorpora o Sargento William James, recém agrupado à Companhia Bravo, em substituição ao finado Sargento Matt Thompson [Guy Pearce, Memento, 2000], na difícil arte de desarmar bombas [veja com atenção a vigorosa sequência inicial do filme, onde se deixa claro a complexidade e os riscos envolvidos]. Ao lado disso, tem que se integrar ao restante do time, o Sargento JT Sanborn [Anthony Mackie, Eagle Eye, 2008] e do SPC Owen Eldridge [Brian Geragthy, I Know Who Killed Me, 2007] mostrando as suas habilidades e o seu jeito pouco cauteloso beirando à total inconsequência e colocando todos em risco maior. Para estes dois últimos a meta é a sobrevivência até serem transferidos do Iraque finalizando a sua missão. Para William James é pura paixão por aquilo que sabe fazer de melhor !

Toda a trama se concentra nestes três personagens de características tão distintas e complementares. A escolha dos atores não poderia ter sido mais feliz. Sobra participações especiais para medalhões como Ralph Fiennes [The Reader, 2008], David Morse [Disturbia, 2007] e Evangeline Lilly [Lost, 2004-2010].



O roteiro de Mark Boal é intrigante e único, pois não está interessado em discutir a guerra em si, suas consequências, aflições, insanidades ou estupidez, se propõe a colocar a guerra como uma droga viciante, onde os envolvidos perdem qualquer perspectiva temporal, geográfica ou histórica, e como uma roleta russa, se dispõem a efetuar o seu trabalho com excitação e prazer. O próprio Boal participou da rotina de um esquadrão antibombas em 2004 como jornalista no Iraque. Daí a riqueza de detalhes e o nível de autenticidade na caracterização dos personagens. A abertura do filme, tensa, faz o espectador acompanhar o serviço dos especialistas como se estivesse tomando parte dele. A respiração ofegante, a adrenalina pulsando, o suor do rosto, o risco da explosão iminente.... tudo está lá ! E continua nesta tensão terrível até a última cena ! Filme direto, forte, sem concessões e sem reviravoltas espetaculares ou artifícios cinematográficos para iludir a platéia. O final surpreende pela simplicidade.



Algumas curiosidades sobre o filme: Avatar e Guerra ao Terror lideraram as indicações ao Oscar 2010, com nove. Avatar ganhou três, e Guerra ao Terror levou seis ! A maior dificuldade enfrentada pela produção foi a locação do filme na Jordânia, porta de entrada para o Iraque. Além de incorporar muitos refugiados iraquianos como figurantes, teve que lidar com o Ramadã e respeitar todos os rituais muçulmanos. Acidente nas filmagens penduraram o ator principal, Jeremy Renner, por vários dias até o tornozelo melhorar. Jim Cameron à respeito do filme disse que Guerra ao Terror tinha tudo de bom para ser o equivalente a Platoon [1986, Oliver Stone]. Como seu predecessor foi também agraciado com a estatueta de melhor filme.

"There's enough bang in there to blow us all to Jesus. If I'm gonna die, I want to die comfortable." ["Há uma quantidade suficiente de explosivos para nos fazer em pedacinhos e nos levar à Jesus. Se vou morrer, quero morrer confortável."- Sargento William James]


A bolacha azul analisada, lançada em 30.06.2010, veio dentro de uma marmita corena belíssima [veja as fotos abaixo], encontrável na YesAsia, em uma edição muito caprichada em um prateado/dourado fosco com belas fotos estampadas. Acompanha folheto com fotos e texto. Infelizmente não dispõe de áudio e legenda em português, mas pode ser encontrada nas lojas virtuais nacionais em nosso amado idioma.

Galera Azul, você pode discordar das bobagens escritas acima, das considerações feitas, e eventualmente pretensiosas, mas honestas, pode se indignar com a premiação recebida em detrimento ao aclamado Avatar, que o filme não é tudo isso, que o Oscar concedido foi um compromisso da indústria hollyoodiana, etc... Mas, a imagem & áudio estão muito bons ! Adequados à intenção e projeto da diretora/produtora. Basta comparar com a cópia das grandes telas, para quem teve a oportunidade de assistir. Pode-se acusar até uma granularidade excessiva e irritar os cinéfilos "lisinhos", mas as cores estão corretas, nada saturadas para um filme com apelo documental, muitos tons de terra e pastéis por toda a película. Mas são cores muito bem definidas ressaltando os detalhes das construções, a sujeira das ruas, a crueza dos habitantes, sendo inteiramente fiel aos materiais e tecidos de uma cidade destroçada. Sem dúvida alguma, o diretor de fotografia, Barry Ackroyd [Battle in Seattle, 2007], não tem o que reclamar do tratamento dispensado pela Summit Entertainment. Eu diria até mais, colocaria como próximo da referência de imagem no mundo azul !

Poster do Filme:


O áudio acompanha a imagem: DTS-HD MA 5.1 lossless ! É o total responsável pela tensão ininterrupta do filme. O bdista mais desprevenido ao assistir este filme deve prestar muita atenção ao clima causado pela trilha sonora de Marco Beltrami [Knowing, 2009]. Por ser recheado de ação, o seu Home Theater terá muito trabalho em reproduzir explosões, voos de helicópteros, blindados se movimentando, tiros dos mais variados calibres. Os diálogos são claros e parecem pertencer aos personagnes que compartilham o seu sofá. Ouve-se toda sorte de grunhidos, ruídos de motores, o ofegar dos personagens em loucas corridas, está tudo lá ! Certo e adequado ! Show de áudio ! Atmosférico !



Resumindo: uma bolacha azul para nenhum taradinho azul botar defeitos ! Recomendadíssimo e indispensável em sua BDteca ! Compra obrigatória !

Avaliação:
. Estória: 4.5/5
. Imagem: 4.5/5
. Áudio: 5/5
. Edição: 4.5/5

Ficha Técnica: The Hurt Locker (Blu-ray + DVD) (Steelbook Limited Edition) (Korea Version)
. Vídeo
Video codec: MPEG-4 AVC
Video resolution: 1080p
Aspect ratio: 1.78:1
Original aspect ratio: 1.85:1
Data de Lançamento BD: 30.06.2010

. Áudio
Inglês: DTS-HD Master Audio 5.1 / Dolby Digital 2.0

. Legendas:
Coreano, Inglês

. Disco:
Capacidade: 50GB Blu-ray Disc (1 BD + 1 DVD)
Região: ABC
Duração: 131 minutos

. Extras:
Audio Commentary with Director Kathryn Bigelow and Writer Mark Boal / The Hurt Locker: Behind the Scenes / Image Galery with Q&A Recorded at the Institute of Contemporary Art, London / Theatrical Trailer

Fotos da Edição: