terça-feira, agosto 24, 2010

Edge of Darkness

Sugestão Azul: Edge of Darkness ! O retorno de Mel Gibson em atuação impecável !

Batizado pelo imaginário verde-amarelo de "O Fim da Escuridão", marmita australiana traz Mel Gibson, após oito anos por trás das câmeras, atuando como um vingativo policial a procura do assassino de sua filha !



Edge of Darkness

O Fim da Escuridão, 2010 [Icon Home Entertainment]

"Some secrets take us to the edge. Few escape justice. None escape vengeance" ["Alguns segredos nos levam ao limite. Poucos escapam da justiça. Ninguém escapa da vingança"]



Bueno, falar sobre Edge of Darkness é falar sobre Mel Gibson [1956- ] ! Não há como fugir ao fato de que o grande apelo para assistir esta película está na figura deste ator / diretor, por nós tão bem conhecido e que se assemelha a um amigo ou a um parente querido. É verdade que andava meio sumido de nossas telas [grandes ou pequenas] desde 2002 [Signs, M. Night Shyamalan] para atuar por trás das câmeras em sua prodigiosa carreira como diretor de filmes como The Passion of the Christ [2004] e Apocalypto [2006]. E a sua volta não poderia ser diferente da pele de um cara durão e que leva às últimas consequências para conseguir o seu intento, seja de forma acertada ou errada. Como policial, papel consagrado pelo ator [quem consegue esquecer Martin Riggs da série Lethal Weapon ?], estrela esta produção do diretor Martin Campbell [o mesmo diretor do fantástico Casino Royale, 2006].

"It isn't what it is, Tommy. It is never what it is. It is what it can be made to look like" ["Não é o que é, Tommy. Nunca é o que é. É o que pode parecer que é" - Bill Whitehouse]



Encontramos o veterano investigador de homicídios do Departamento de Polícia de Boston, Thomas Craven [Mel Gibson], nas cenas iniciais do filme e ficamos sabendo através de generosos "flashbacks" e vídeos domésticos, ser pai de uma doce garotinha, Emma [Bojana Novakovic, Drag Me to Hell, 2009], que no presente está bem crescidinha e aos 24 aninhos se tornou uma estagiária de uma grande corporação americana após se formar no famoso MIT [Massachussetts Institute of Technology]. Durante as férias vai ao encontro da casa paterna para uma pausa como qualquer filha que leva vida independente. Durante o encontro percebemos que há algo de errado com Emma, mas somos distraídos por momentos afetivos entre pai e filha e cenas domésticas comuns. Até que somos violentamente supreendidos pelo seu brutal assassinato, enquanto saía de casa ao lado do pai. Juntamente com Thomas Craven somos levados a crer que o alvo era endereçado ao investigador e não à sua mimosa filha. Daí em diante a trama, linear e convencional, conduz à vingança de um pai atormentado pela morte de sua única filha. E, é claro, que nem tudo é o que parece, e que de coisas simples, os filmes passam a quilômetros de distância. Caso contrário não seriam filmes ! Enquanto Thomas Craven se envolve mais e mais no mistério da morte da filha, mais envolvidos e entretidos ficamos neste "thriller" policial que nos remete a grandes filmes do gênero das décadas passadas. Através de sua dor e de investigações obssessivas vamos desvendando a vida secreta de sua filha e o envolvimento com uma grande conspiração [coisa típica americana !] diretamente ligada à segurança nacional e assuntos governamentais.

"Everything's illegal in Massachusetts." ["Tudo é ilegal em Massachusetts." - Thomas Craven]



A trama é suficientemente engenhosa para manter o taradinhos azul colado em sua poltrona com o olhar grudado na tela conjecturando o tempo todo e tentando adivinhar a próxima sequência do filme. O diferencial está na atuação de Mel Gibson que interpreta um policial maduro [bom, ele mesmo já bem madurão...], que mesmo angustiado, constrói um personagem contido e controlado. O antônimo de Martin Riggs ! Nos extras [bem legais !] vemos um Mel Gibson de bem com a vida, se divertindo muito durante as filmagens, brincando o tempo todo com os demais atores e membros da equipe técnica. O seu retorno foi devidamente comemorado e o clima das filmagens reflete este momento. Além de Gibson, o destaque maior fica para o veterano ator Ray Winstone [The Departed, 2006], que dá vida ao intrigante Darius Jedburgh. Jedburgh, como ele mesmo se define, pertence a uma agência governamental de um membro só. É encarregado de "resolver problemas" ou "tornar a situação incomprensível", de forma que ninguém consiga unir o ponto "A" ao ponto "B". É chamado para "limpar a bagunça" e para isso possui suficiente poder para atuar como juiz, júri e, se necessário, carrasco ! Preste atenção nos diálogos refinados e inteligentes entre Craven e Jedburgh ! Uma aula de escrita e interpretação. É o que alinhava a trama e mantém o interesse no desenrolar dos fatos com a análise das escolhas feitas por ambos, o duelo com meias palavras e sutilezas, tudo apimentado por uma atuação conjunta memorável. Jedburgh é um tipo marcante e forte [diria até mesmo "cool"], que certamente fará parte do imaginário de personagens perenes do mundo cinematográfico. Fico de pé e tiro o meu chapéu para Ray Winstone / Darius Jedburgh !

"You know, Bill, no one expects you to be perfect. But there's just a few basic things you gotta get right. Always do the best you can by your family. Go to work every day. Always speak your mind. Never hurt anyone that doesn't deserve it... & never take anything from the bad guys." ["Você sabe, Bill, ninguém espera que você seja perfeito. Mas há algumas coisas básicas que você tem que acertar. Sempre faça o melhor pela sua família. Trabalhe todos os dias. Sempre fale a verdade. Nunca machuque alguém que não mereça..... e nunca receba qualquer coisa dos bandidos." - Thomas Craven]



Outra participação importante é a do sempre competente Danny Huston [o coronel Striker X-Men Origins: Wolverine, 2009] como o CEO da corporação de pesquisa e desenvolvimento Northmoor, ligado ao governo americano. Seu personagem, Jack Bennett, tem importância capital no desenrolar do filme, e o ator tem espaço para mostrar a sua versatilidade. A atriz sérvia Bojana Novakovic interpreta Emma Craven de forma convincente e surpreendentemente segura contribuindo para a veracidade da trama.

Ese filme é uma adaptação para as grandes telas da premiada mini-série inglesa Edge of Darkness [1985] de seis capítulos com duração total de cinco horas, estrondoso sucesso de público, escrito por Troy Kennedy-Martin [1932-2009] e dirigido pelo mesmo Martin Campbell. Na época a série tinha como objetivo mostrar as grandes corporações maquiavélicas acobertadas pelo governo inglês de suas intenções secretas e criminosas. O jogo de gato e rato se resumia em descobrir e comprovar o jogo nuclear, tornando-o público. O envolvimento de grupos ativistas, conspiradores internacionais, a elitização global e o caro preço a pagar pelos contribuintes alheios e inocentes. Em tempos de guerra fria já antecipava o lado negro da globalização e a angústia americana de arquivos secretos [X Files, Chris Carter, 1993-2002] e de como o governo resolve as suas questões internas e problemas mediáticos. Época de Margareth Tatcher e o seu espelho americano, Ronald Reagan, no auge da paranóia nuclear.

"Well you had better decide whether you're hanging on the cross or banging in the nails."> ["É melhor você decidir se vai ficar na cruz.... ou bater os pregos." - Thomas Craven]

Série BBC [1985]


Martin Campbell em seu depoimento [extras bem produzidos, informativos e divertidos !] nos fala do desafio desta refilmagem com priorização do foco na relação pai e filha, seguindo os passos do trauma, recomposição psicológica, investigação e vingança empregado por Thomas Craven, cuja consciência dialoga com aparições de Emma no decorrer do filme. Os roteiristas William Monahan [Body of Lies ,2008] e Andrew Bovell [The Book of Revelation , 2006] homenageam o dramaturgo escocês Troy Kennedy-Martin [Red Dust,2004], roteirista da série original. O jogo corporativo e governamental segue em segundo plano, de forma paralela, contrapondo o instigante Jedburgh, responsável pelo entrelaçamento entre os dois planos, esclarecendo e seduzindo o espectador azul. Tudo bem amarrado em um cenário esplendoroso em Boston. Como não poderia ser diferente, o filme de aproximadamente duas horas é mais enxuto e focado, se comparado com a mini-série. Além de ter sido atualizado para os dias de uma América de Obama. Por tudo isso, os detratores do filme clamam pela perda do impacto nas relações secretas corporativas com laços mal explicados com agências governamentais em pró de um filme mais centrado na ação policial. Um compromisso, sem dúvida alguma, mas com resultados acima da média. Bom entretenimento em um veículo que trás de volta às telonas um grande Mel Gibson.



Algumas curiosidades sobre o filme: O senador americano de Boston, Jim Pine [Damian Young, Sex and the City, 2008] é retratado como um republicano. Até a recente eleição para preencher a vaga do falecido Edward Kennedy, não houve um republicano no senado americano pelo estado de Massachusetts em mais de três décadas. O papel de Jedburgh estava destinado a Robert de Niro, que acabou desistindo por diferenças criativas com a produção. O nome do personagem, Jedburgh, é uma referência a uma operação com paraquedistas na França ocupada realizada durante a segunda grande guerra. Todos os membros desta operação foram capturados, torturados e mortos pelos alemães. A música tema do filme, Say My Name foi composta pelo casal Mel Gibson & Oksana Grigorieva. Performance de Grigorieva [a conferir].

"Well, we all know what the facts are. We live a while and then we die sooner than we planned." ["Bem, todos nós sabemos quais são os fatos. Vivemos por um tempo e então, morremos mais cedo que planejamos" - Jedburgh]



A edição australiana da bolacha azul analisada, disponibilizada no mercado há pouco menos de dois meses, veio dentro de uma marmita fantástica com o título em baixo relevo e vermelho, estampa fosca nas duas faces da lata, uma espécie de luva com os dados técnicos da película e ainda, aquilo que todo bom marmiteiro preza, arte interna ! A bolacha azul também possui estampa. Tudo certo, bonito, a menos da ausência de legendas e áudio verde amarelo, azul anil !

"I don't know what it means to have lost a child, but I know what it means never to have had one." ["Não sei o que significa perder um filho, mas sei o que significa não ter tido um." - Jedburgh]

"Yeah, got nobody left to bury you." ["Yeah, não ter ninguém para enterrá-lo." - Thomas Craven]



A imagem desta edição azul não é impactante, fora de série ou que provocará espanto aos taradinhos azuis. É uma imagem 1080p correta e como qualquer blu-ray deve ser: límpida, com contrastes bem definidos, cores firmes, preto vigoroso e tonalidades reais. Não há malabarismos, o que na minha opinião é um ponto positivo. As cenas são de uma metrópole, com externas que valorizam o céu, rio, árvores e construções urbanas. As cenas internas, no interior da casa de Thomas Craven, são bastante fiéis destacando a textura dos materiais, a iluminação cuidadosa. Um prato cheio oferecido pelo diretor de fotografia Phil Meheux [Casino Royale, 2006] para que Campbell pudesse imprimir a suas intenções neste "thriller" policial. Para os chatões altamente treinados na "arte de ver o grão" encontrarão o objeto de desejo de leve nesta película.

Poster do Filme:


A trilha original do filme é assinada por Howard Shore [The Lord of The Rings, 2001-03], um mestre que é responsável por conduzir o espectador azul ao longo da odisséia de Thomas Craven. De vez em quando soa um pouco grandioso demais, mas dá o tom da dramaticidade nos momentos críticos da estória realçando o estado emocional dos principais personagens. Tudo empacotado em um correto DTS-HD Master Audio 5.1 que lhe proporcionará muitos sustos com direito a tiros únicos e impressionantes [assustadores, diria eu ! Prestem atenção no assassinato de Emma !], helicópteros, perseguições e lutas. Outro episódio digno de nota é o "acidente" da personagem Melissa [Caterina Scorsone, Série Crash, 2008-09]. É de tirar o fôlego ! Os diálogos são claros e frescos, tudo corretíssimo. O áudio deste filme certamente não deixará o seu Home Theater na mão !



Resumindo: esta bolacha azul nesta edição é digna de coleção ! E se o taradinho azul não necessitar de legendas em português, é simplesmente perfeito. Entretenimento de verdade para reunir toda a família, sem restrição, e brindar a volta de Mel Gibson !

Avaliação:
. Estória: 3.5/5
. Imagem: 4/5
. Áudio: 4.5/5
. Edição: 4.5/5

Ficha Técnica: Edge of Darkness (Blu-ray) (Steelbook Limited Edition) (Australian Version)
. Vídeo
Video codec: VC-1
Video resolution: 1080p
Aspect ratio: 2.40:1
Original aspect ratio: 2.39:1
Data de Lançamento BD: 07.07.2010

. Áudio
Inglês: DTS-HD Master Audio 5.1 / Dolby Digital TrueHD 5.1

. Legendas:
Inglês, Inglês para Deficiente Auditivo
. Disco:
Capacidade: 50GB Blu-ray Disc (1 BD)
Região: ABC
Duração: 117 minutos

. Extras:
Deleted scenes / Revisiting the Edge of Darkness mini-series / Mel's Back / Director Profile - Martin Campbell / Boston as a character / Edge of your seat

Fotos da Edição: