The Book of Eli
Sugestão Azul: The Book of Eli! Alguns matarão para obtê-lo. Ele matará para protegê-lo.
Candidato à filme Cult, atuações de Denzel Washington / Gary Oldman, fotografia e trilha sonora são destaques !

The Book of Eli
2010 [Sony Pictures]"As pessoas tinham mais do que precisavam. Não tínhamos idéia do que era precioso, e do que não era. Jogávamos fora coisas, que hoje em dia, as pessoas se matam para obtê-las."

Filme que irá certamente agitar os amantes de estórias pós-apocalípticas filmadas em cenários inóspitos e centradas na figura de um andarilho solitário incumbido de uma missão sagrada. Com todos os pré-requisitos para se tornar um filme "cult" devido à temática e à abordagem incomum de um personagem carismático com características marcantes, a exemplo de grandes heróis dos quadrinhos e da grande tela.
Grande vedete em seu lançamento em março deste ano, The Book of Eli segue o caminho aberto por clássicos "keep walking" solitários e poeirentos como Mad Max [George Miller, 1979], o mais recente I am Legend [Francis Lawrence, 2007], Terminator Salvation [McG, 2009] e as animações Wall-e [Andrew Stanton, 2008] e #9 [2009, Shane Acker]. Todos exemplos pós-cataclismas de um planeta devastado. Entretanto, não teve uma passagem estrondosa nas telonas por onde passou e não entusiasmou a crítica mundial.

Denzel Washington [Frank Lucas de American Gangster, 2007] na pele do protagonista Eli, é um sobrevivente do mundo "de antes" do flash que há "trinta invernos" dizimou os EUA, possivelmente resultado de uma hecatombe nuclear. Através de um chamado místico após o desastre atômico é incumbido de proteger e levar "o" livro para o Oeste, para um lugar seguro, onde devidamente apreciado se converterá em instrumento para o resgate da humanidade. Caminhando incansavelmente por outrora cidades opulentas se depara com os restos de uma civilização conhecida, agora transformada em caos e desolação. Diariamente lê o único livro que carrega e protege com obstinação. Com a sua surrada mochila, um facão descomunal ["peixeira" estilosa e cool], uma espingarda e um óculos de sol enfrenta a ausência de água e comida, as armadilhas de grupos bandoleiros, o desconhecido. Na sua solitária jornada sobrevive caçando pequenos animais e procurando todo tipo de objetos, que poderão ser trocados por água e suprimentos em pequenos vilarejos pelo caminho.

A todo missionário do bem se defronta um oponente do mal, sagaz e poderoso, que na figura do personagem Carnegie [Gary Oldman, o comissário Gordon de The Dark Knight, 2008], se obsedia com a posse do livro ambicionando o poder supremo. Explica-se: o tal livro teria o poder de se fazer ouvir, com as suas palavras, entre as pessoas simples, tornando-as instrumentos para a construção de um novo império sob a batuta do seu condutor.
"Thank you lord for a warm bed to sleep on, thank you for the food we are about to eat, thank you for a roof over our heads on cold nights such as this, thank you for companionship in hard times like these, Amen." [Eli]
Em uma cidadela dominada pelo mafioso Carnegie, que comanda um bando de vândalos regados à muito álcool e mulheres [claro ! só faltou rock'n'roll !], o encontro fortuito entre os dois protagonistas acontece. Neste episódio conhece a bela Solara [Mila Kunis, That '70s Show, 1998-2006], enteada de Carnegie, e que juntos, foragidos, serão perseguidos pelas garras brutais de seus inimigos torpes para a obtenção do livro.

A estória, simplória até, com roteiro do estreante Gary Whitta, é contada de forma magnífica pelos diretores e irmãos Albert e Allen Hughes [From Hell,2001]. As estrelas máximas desta produção, até modesta para os padrões hollyoodianos [80 milhões de obamas !], são indubitavelmente o ator Denzel Washington [The Taking of Pelham 1 2 3, 2009], a estupenda fotografia de Dom Burguess [Terminator 3: Rise of the Machines, 2003], e a trilha sonora de Atticus Ross [Twilight, 2008] com inserções surpreendentes de canções como "How Can You Mend A Broken Heart" [dos Bee Gees, interpretado por Al Green] e "Ring My Bell" [na voz de Anita Ward].

A sequência inicial é impactante e de uma apelo visual impressionante. Com fotografia esverdeada já posiciona o taradinho azul em uma realidade diferenciada com flocos indistintos de folhas que caem como uma chuva fina contínua [lembrando o ambiente da cena de duelo em Kill Bill I entre O-Ren Ishii e a Noiva !] entrecortada pela respiração ofegante de um caçador mascarado à espreita de sua vítima. Reparem na trilha sonora soberba ! Acompanha um sensação de desamparo, solidão e desesperança, prenunciando uma existência árdua e determinada de nosso herói no decorrer do filme.
A película toda é apresentada com cores dessaturadas com tonalidades sépias azuladas, belíssimas, que dialogam com a aridez do cenário em que o caminhante trafega, grandes áreas empoeiradas e devastadas. Dá para sentir os lábios secos, a pele ressecada, o calor torturante e o cansaço de protagonista peregrino. O azul do céu e as nuvens que se transformam continuamente em um horizonte longínquo e solitário possuem um papel preponderante na ambientação da trama e o leitor azul poderá reparar com atenção neste detalhe.

Há sequências inteiras que lembram Tarantino [1963- ], não apenas nas cenas de lutas marciais, coreografadas com plasticidade ímpar pelo mago Jeff Yamada [Iron Man 2, 2010, The Bourne Ultimatum, 2007 e tantos outros], discípulo do filipino Dan Inosanto [aluno de Bruce Lee], mas também de ironias e comicidade mundana. Atentem para a cena divertidíssima do casal George [Maichael Gambon, o Professor Albus Dumbledore da franquia Harry Potter] e Martha [Frances de la Tour, a Madame Olympe Maxime de Harry Potter and the Goblet of Fire, 2005] e da participação, sempre inusitada, do cantor e compositor Tom Waits [Coffee and Cigarettes, 2003]. A eterna Jennifer Beals de Flashdance [1983] está presente como Claudia, cega e mãe de Solara, companheira de Carnegie, que é responsável pelos momentos ternos de esperança. A desmiolada Jackie Burkhart do cultuado e divertido That '70s Show, a atriz Mila Kunis, tem a sua atuação bastante contestada, pois parece deslocada e um pouco assustada por atuar junto a gigantes da arena cinematográfica como Washington e Oldman. A sua Solara é apagada e embaçada na minha opinião.
Mas, novamente o filme é do astro Denzel Washington ! Que retorna à tela grande, e agora em azul hidef, depois do Sequestro do Metrô 1 2 3 [2009, Tony Scott], aqui, visivelmente mais magro e "sarado", encara o desafio das lutas com agilidade e propriedade admiráveis. Nos extras ficamos sabendo que o aprendizado com o coordenador de stunts, mestre Yamada, que Denzel dispensou dublês em todas as suas cenas e com rapidez inesperada aprendeu a complexa coreografia das inúmeras lutas requisitadas pelo roteiro. Para se ter uma idéia, a cena de luta com os bandoleiros em um túnel foi realizada em uma única tomada ! Além da ação, Denzel empresta uma dignidade convincente ao personagem determinado e incorruptível na sua fé. Como seu oposto, o grande Gary Oldman personifica um Carnegie astuto, irônico e visionário. Porém, como todo ditador é facistóide e violento em seus desvairios de poder. Há uma contínua degradação física e mental no personagem que o ator sustenta de forma dramática.
Um filme com fotografia belíssima, produção caprichada, atuações seguras e uma trilha sonora de primeira ! Boa diversão, com certeza !

A bolacha azul analisada veio dentro de uma marmita canadense [equivalente à amaray americana], encontrável na FutureShop ou e-bay, com fantásticas impressões externa e interna, duas bolachas [BD + DVD]. Uma edição caprichada, uma das mais belas NMHO, que vai ser motivo de muito orgulho na prateleira de qualquer colecionador. Não dispõe de áudio e legenda em português !
Galera BDista, pode-se discutir a veracidade da estória, a escolha dos atores, o merchandise explícito e extenso, mas não a estupenda imagem desta bolacha azul ! A fotografia é deslumbrante e tudo é tão detalhado e real que faz parecer que a platéia está suando sedenta ao lado de Eli. O leitor azul mais detalhista pode contar os buracos, as pedrinhas ao largo no caminho do andarilho, pode sentir a textura dos materiais, a aridez do clima pós-apocaliptico, beber a água preciosa. Tudo está lá, pronto para ser tocado ! Céus escandalosos, pretos fantasmagóricos de profundos, contraste, cores pastéis.... uma aula de imagem em alta definição ! De babar e se embasbacar !

O áudio é de fundamental importância neste filme. Quando Blu-ray News esteve na sede da ETC Filmes, empresa especializada na autoração de bolachas azuis, Clayton Douglas fez os seguintes comentários sobre a trilha sonora de "O Livro de Eli":
"No filme O Livro de Eli, a trilha sonora é ponto fundamental da obra, principalmente no que diz respeito a percepção do personagem, a todos os ruídos, barulhos e etc que venham do externo. Alguns exemplos de cenas onde o áudio é ponto-chave no comportamento do personagem:
- Primeira cena em que o gato-do-mato se aproxima, os sons dos movimentos dele são bem exagerados na mixagem, ou seja, dando a entender que aquela movimentação é parte importante da cena. Numa mixagem normal o som dos movimentos do gato seria mais um em meio a trilha sonora, floresta, etc.
- Falando em trilha sonora, a primeira música que ele ouve na cabana, How Can You Mend A Broken Heart dos Bee Gees, tem uma frase interessante (I could never see tomorrow, I was never told about the sorrow) - “Eu nunca conseguia ver o amanhã...Nunca me falaram sobre o sofrimento...”
- A Cena da briga com os seqüestradores é interessante, pois o Eli leva-os para dentro da ponte, ou seja, um local, por ser fechado, onde ele poderá ouvir melhor os movimentos deles durante a briga.
E em vários outros momentos, nas cenas de tiroteiro onde sempre os tiros passam com volume muito exagerado próximo ao Eli."
Avaliação:
. Estória: 4/5
. Imagem: 5/5
. Áudio: 5/5
. Edição: 4.5/5
Ficha Técnica:
. Vídeo
Video codec: VC-1
Video resolution: 1080p
Aspect ratio: 2.39:1
Original aspect ratio: 2.39:1
Data de Lançamento BD: 15/06/2010
. Áudio
Inglês: DTS-HD Master Audio 5.1, Francês, Espanhol: Dolby Digital 5.1
. Legendas:
Alemão, Francês, Inglês
. Disco:
Capacidade: 50GB Blu-ray Disc / Two-disc set (1 BD / 1 DVD)
Região: ABC
Duração: 118 minutos
. Extras:
Maximum Movie Mode: 40 minutes of picture-in-picture commentary with Denzel Washington and the Hughes Brothers, and 10 Focus Points / Additional scenes / A Lost Tale: Billy--animated short covering Carnegie's backstory / Starting Over: Explore the role we might play in reshaping society after a global catastrophe / Soundtrack: Co-director Allen Hughes and composer Atticus Ross compare notes about the soundtrack's construction and deconstruction / Eli's Journey: Probe the historical and mythological roots of the film's central themes
Fotos da Edição: